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Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (23 de abril de 1892 - 22 de dezembro de 1979) |
1. “O aforismo é forma de pensar corajosa e superior: superior, porque sintetiza; corajosa, porque se sente capaz de viver sem companhias. Raríssimos são os pensamentos que resistem à prova depuradora da soledade; e os aforismos são como certos espíritos que mesmo em companhia estão sempre sós!”
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2. “Chega o homem ao grau definitivo de superioridade quando pode elevar-se acima da sua própria fé!”
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3. “Para seres feliz basta que possas dizer: sou homem forte, porque me sinto capaz de ser indiferente a todas as consequências do meu orgulho!”
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4. “O Direito serve à vida: é regramento da vida. É criado por ela e, de certo modo, a cria!”
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5. “Há um grande amor que é a mais perfeita forma de sabedoria: amar em outrem a sua própria beleza!”
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6. “Os melhores pensamentos são os que não têm palavras. Fazem-se em nós, da nossa substância, porém não se evolam no exterior, nem se adulteram na futilidade dos vocabulários: pensam-se, mas não se dizem!”
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7. “Ideias novas? Basta que encontremos a posição nova, pessoal. Para quem já possui a lente mágica, tudo mais será imprevisto, original e belo, porque a natureza mudará com a estrutura e a cor dos vidros!”
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8. “Só o Cristo se salvou: será Deus, exceção; somente ele será capaz de receber com serenidade todas as dores e privações, no meio da humanidade esquálida, pecadora e gemente!”
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9. “É grave prejuízo para o escritor que cerca de cinco mil medíocres se encontrem nele!”
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10. “Quem se contenta em ler lei é um louco, um criminoso que o código esqueceu de enquadrar!”
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11. “Há indivíduos que desejam sempre mandar, ainda que para isso se escravizem. Será por si mesmo um fim tal vontade? ou o simples meio de um instinto: o instinto de ser escravo?”
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12. “Os moribundos têm sempre a mesma filosofia da vida, simples, mas profunda!”
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13. “Quando algum dia deixarem de existir as posições, ricos e pobres sentirão saudades: os grandes porque o não seriam mais, e os pequenos porque o queriam ser!”
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14. “Os espíritos frágeis, perversos, medíocres e incolores são dignos do nosso cuidado, da nossa benemerência e da nossa gratidão, ainda quando nos ferem, não por serem obedientes e cordatos, mas porque nos proporcionam seguras razões para os desprezar!”
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15. “Tenho visto poentes, que eu mesmo estranharia se me mostrassem pintados. Muitos indivíduos chegariam a chamar idiotas aos pobres artistas!”
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16. “Já não nos satisfaz, a nós, homens contemporâneos, a justiça transcendental das teocracias. Queremos nós justiça concreta, social, verificável e conferível como fato, a justiça que se prove com os números das estatísticas e com as realidades da vida!”
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17. “O maior descobridor é o que pode dizer, depois de haver naufragado na vida comum: achei-me. Efetivamente, nada mais difícil do que ser batel perdido... E encontra-se, a seu eu, no alto oceano da vulgaridade!”
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18. “Não emendes a tua frase, nem lhe dês formas alheias. As boas idéias surgem como os cristais: com os seus contornos. Se a vais limar à pedra da tua vontade, perderá o brilho, a extravagância e as luzes. Deixa-a como está: mais vale o coral bruto do que o diamante falso que se lapida!”
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19. “A morte cria outras grandezas, porque a morte não faz iguais, desfaz. Não nivela, destrói. Todos deixam de ser, e ainda assim, suprema ironia, nem todos deixam de ser a mesma coisa; uns deixam de ser grandes, outros, pequenos!”
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20. “O que ri vulgariza-se. Para que o riso não degrade é mister que encubra a ironia, atenue a frieza da serenidade, ou seja a flor vermelha e fresca que absurdamente se interpõe entre ramos e frutos de sabedoria e de tristeza. O sábio não ri, senão quando em tudo que lhe vai na alma o menos importante é o riso!”
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* Pontes de Miranda foi membro da ABL - Academia Brasileira de Letras, cadeira 7 (Patrono: Castro Alves - Fundador: Valentim Magalhães)